Em Cabo Verde, resíduos do mar estão a ser transformados em bolsas e pulseiras

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Todos os anos, centenas de toneladas de resíduos acabam por poluir as praias do arquipélago de Cabo Verde, impulsionadas pelas correntes marítimas do Atlântico e das Canárias. Dois empresários resolveram enfrentar esse problema com a marca Simili, que transforma as redes de pesca recolhidas na areia em tecidos para a confecção de bolsas e outros acessórios de moda.

Redes de pesca de todas as cores, garrafas de plástico e outros dejetos do oceano espalham-se pela areia fina de muitas ilhas de Cabo Verde. Essa poluição resulta das correntes marinhas que diariamente depositam detritos provenientes de todos os continentes – ou quase. Essa observação angustiante levou duas mulheres, Helena Moscoso e Debora Roberto, a se lançarem no upcycling em 2019, adotando uma prática agora preferida por muitos estilistas que buscam combater o desperdício, a superprodução e a poluição da terra e do mar em sua própria escala.

Resíduos como matéria-prima

Através da marca Simili, reconhecível pelo seu logótipo em forma de peixe, os dois empresários pretendem livrar as praias deste lixo indesejado, ao mesmo tempo que promovem o conhecimento e o artesanato local. As redes de pesca recolhidas nas praias servem de matéria-prima e são transformadas por costureiras especialmente treinadas em acessórios de moda como bolsas, pochetes, estojos e pulseiras.

Embora a iniciativa não permita a produção em larga escala, ela contribui para a despoluição das praias e para a conscientização sobre os problemas da poluição marinha.

“No fim de semana, começamos a coletar matéria-prima para lançar nossa produção. Infelizmente, o Atlântico oferece muito! Queremos dar uma nova vida a esses materiais que ameaçam a vida marinha”, postaram os dois fundadores da Simili no Instagram ao lançar a marca. Um ano depois, eles acrescentaram: “Preferiríamos não ter tantas matérias-primas disponíveis, mas [nossa] criação continuará focada nesse problema e tentando reduzi-lo, mesmo que em escala muito pequena”.

Promover competências e conhecimentos locais

Acompanhadas na maior parte do tempo por voluntários, as duas mulheres participam regularmente em campanhas de limpeza em diferentes ilhas, incluindo Santa Luzia e São Vicente, organizadas por associações e organizações como a ONG Biosfera, que trabalha para a proteção dos recursos costeiros e marinhos no arquipélago. Esta é uma tarefa que não tem fim, pois há tanto lixo nas praias, sem contar as dificuldades enfrentadas quando o lixo (já) está enterrado na areia. “Em Santa Luzia há redes tão enterradas e presas às rochas que já fazem parte da paisagem. Esta é a realidade nas praias de Cabo Verde”, lê-se numa publicação na página de Instagram da marca.

Três anos depois do lançamento deste projeto, que nasceu pouco antes da pandemia, dezenas e dezenas de sacos são feitos à mão pelas costureiras de Salamansa, aldeia do norte de São Vicente.

A formação como costureira permitiu que estas mulheres conseguissem emprego na oficina de Simili, transformando diariamente as redes de pesca recolhidas em sacos, bolsinhas e estojos e pulseiras, conforme noticia a revista Jeune Afrique. Estes são vendidos aos cabo-verdianos, bem como aos turistas, para promover a economia circular e sensibilizar para a poluição dos oceanos.

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