APMES – A ambição de mudar as políticas do turismo no país!

Entrevista com o Presidente da Associação das Pequenas e Médias Empresas do Sal (APMES)

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Presidente da recém-criada Associação de Pequenas e Médias Empresas do Sal, o Senhor Andrea Benolli encara o estado do sector de uma forma que obriga à criatividade e inovação por parte da maioria das empresas na ilha e responde questões que a associação conta fazer face aos novos desafios pós-Covid-19.

Antes do COVID-19 porque nunca se pensou em criar uma associação que defendesse os interesses dos pequenos, médios empresários da Ilha do Sal?

Antes da pandemia as empresas localizadas na Ilha do Sal trabalhavam muito bem e o tempo dos empresários era 100% focalizado no desempenho das próprias atividades, pelo que ninguém teve interesse em montar e dar seguimento a uma associação que cuidasse do ambiente de negócio. Um dos aspectos positivos do Covid-19 foi de dar-nos tempo para pensar e trabalhar neste sentido.

Que responsabilidade tem o Senhor neste novo cargo?

Sou sócio fundador e com o amigo Sr. Renato Evarchi e desempenho a função de Presidente do Conselho Diretivo. A minha primeira responsabilidade é respeitar o objecto da Associação, ou seja, representar os interesses das pequenas e médias empresas do Sal.

Como pode utilizar o seu cargo de Presidente para aproximar do Governo para a defesa dos interesses da associação a que preside?

Nos últimos anos havia de facto uma falta na representação dos interesses das pequenas e médias empresas e após a nossa constituição, o primeiro passo que demos foi apresentar a associação a entidades públicas e privadas, explicando que esta não será uma das muitas associações, que nós estamos verdadeiramente apaixonados neste desafio e que queremos levar a visão das empresas onde for preciso. Todas as entidades acolheram com grande entusiasmo os nossos projectos e com muitas delas já estamos trabalhando para melhorar o ambiente de negócio, conseguindo em breve os primeiros resultados. A força da nossa associação não é o Presidente, mas os associados, especialmente aqueles que participam activamente no desempenho das várias atividades. Quem faz ganhar é uma boa equipa e os benefícios são partilhados com todos os associados.

Que estratégias têm para minimizar os danos causados no sector do turismo e trilhar um novo caminho para chegar ao ponto em que estávamos antes da pandemia?

Nesta altura a retoma do turismo internacional não depende de Cabo Verde, pelo que o Governo já está trabalhando para impulsionar pacotes específicos para incentivar o turismo interno. Uma gota no mar, mas as vezes é a gota que nós todos precisamos para ultrapassar este momento. O que eu sempre digo aos empresários é que na crise há também oportunidades e temos que ultrapassar o desapontamento para voltar a pensar positivo e ver o que será preciso fazer no próximo futuro, como podemos aproveitar das oportunidades após pandemia. Aproveita este tempo para rever os custos da empresa, pensar de forma diferente, quais são as tarefas disponíveis hoje para planear o nosso futuro sucesso? Quais os parceiros mais valiosos? Em duas palavras: seja empresário!

Existem novos desafios para o sector da vossa actividade? Há novas exigências por parte dos visitantes, que obriguem a novos investimentos?

Além das obrigações previstas nomeadamente ao plano de contingência os empresários terão que pensar ao impacto psicológico da pandemia: as relações entres as pessoas já mudaram, os contactos físicos serão quase proibidos; nesta lógica temos que redesenhar as nossas empresas. O melhor investimento será compreender estas mudanças para aproveitar das suas oportunidades, como por exemplo os menus digitais ou serviços de Take-away/delivery.

Quais são as principais reivindicações e preocupações da organização?

A associação abrange todos os sectores económicos presentes na lha do Sal, portanto o nosso interesse é melhorar o ambiente de negócio em geral. Temos alguns desafios específicos de algumas categorias particularmente afetadas pela pandemia, como os pequenos hotéis, as agências de turismo (excursões) e guias de turismo. Trabalhamos e já conseguimos vários resultados através das parcerias com o Governo e com alguns institutos privados, mas além de ajudar as empresas a ultrapassar este período difícil já estamos a trabalhar pelo período pós-pandemia.

Durante o seu mandato, quais são as principais realizações que pensa desenvolver junto dos seus pares no turismo da Ilha do Sal e quiçá de Cabo Verde?

Estamos a elaborar um projecto que tem a ambição de mudar as políticas do turismo no país, especialmente nas ilhas do Sal e Boavista. Um projecto que já mereceu aprovação do Governo e que abrange uma multitude de investimentos de curto e médio prazo para dinamizar a economia das zonas turísticas do Pais.

Com a retoma da actividade turística implica novos desafios para esta associação?

Como qualquer empresa, também a associação permanece aberta aos próximos desafios e oportunidades. Vamos ver o que o futuro tem para nós!

O que é preciso fazer para tornar as empresas do sector pós-pandemia viáveis para a economia do turismo e sustentabilidade do emprego?

A crise financeira de 2008 mudou a economia global e aquela de Cabo Verde, o Covid-19 ainda perturba a economia global e a liberdade das pessoas. A história insigne que nada é para sempre e que as mudanças são sempre mais rápidas. Penso que Cabo Verde deveria investir e atrair investidores com um único grande objetivo: tornar-se muito mais independente em garantir os serviços essenciais: alimentação, saúde, segurança, energia, telecomunicações, transportes. Cabo Verde tem todos os requisitos para tornar-se independente nestas áreas e um país independente é um país livre!

Quantas empresas ainda são sobreviventes desta pandemia? Os que ainda têm alguma esperança no sector conseguiram manter os postos de trabalho?

Como os ursos fazem em inverno, assim muitas empresas estão hibernando, ou seja, pararam as atividades limitando os custos ao mínimo na esperança de conseguir chegar ao dia da retoma do turismo internacional. Este acontece com os grandes resorts e com as pequenas lojas de 15m2, neste sentido a pandemia é democrática sendo nós todos dependentes do turismo. A nossa esperança é que haja uma retoma em breve, sabendo que isso depende dos governantes europeus.

As medidas do Governo para combater a pandemia em termos económicos e a sobrevivência das empresas foram eficazes?

Sim, foram boas medidas para fazer face às exigências imediatas. Quem foi aproveitar é porque efectivamente teve necessidade por falta de tesouraria e assim conseguiu a ultrapassar alguns meses sem receitas. O que acontece é que a pandemia continua em Europa e sendo assim, continua a carestia pelas nossas empresas que agora são gravadas pelas dívidas com os bancos. É preciso continuar a suportar as empresas a nível financeiro.

Como é que vê a questão das moratórias, do Lay off, os impostos na electricidade, água e a redução do IVA para 10%? Será que o Governo poderia ir mais longe?

Trata-se de medidas standard, aplicadas em todos os países do mundo que, como Cabo Verde, são muito dependentes do turismo internacional. São boas medidas, mas é mesmo preciso ir mais longe porque esta pandemia parece não acabar!

Por último qual o seu desejo para a actividade do sector económico na ilha do Sal.

Além da retoma do turismo que é claramente o desejo maior de todos nós, queria ver os empresários mais envolvidos em definir as “regras do jogo”. Somos todos concorrentes, mas também somo colegas e neste sentido podemos ajudar a Política em tomar as melhores decisões para o desenvolvimento das nossas actividades. Melhorar aquelo que se chama “ambiente de negócio” deveria ser o interesse de todos os empresários, porque esperar por alguém definir as regras do jogo para logo depois criticar o que foi feito é, na minha opinião, mais fácil. Participar na definição do ambiente em que todos nós vamos trabalhar e viver exige tempo, energia e sacrifícios, mas é importante para o nosso futuro e dos nossos filhos. Neste sentido a associação das pequenas e médias empresas do Sal é o melhor interlocutor.

Nu sta djuntu!

 

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