Roteiro Cultural e Turístico de S. Nicolau, uma viagem pelas maravilhas da Ilha de Chiquinho

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No dia 3 de Junho foi apresentado na cidade da Praia, na Biblioteca Nacional, o Roteiro Cultural e Turístico da Ilha de São Nicolau pelo Professor João Lopes Filho, cuja apresentação esteve a cargo do Eugénio Inocêncio da Associação de Turismo de Santiago e da Alita Dias membro da Associação de Turismo de São Nicolau.

A obra proporciona uma viagem pelas maravilhas da ilha do Chiquinho, através de um roteiro escrito que mostra as paisagens, as ruas estreitas, as inconfundíveis arquiteturas coloniais, os monumentos, as diferentes zonas, vilas e portos da ilha de São Nicolau que servem como cartão de visita  da ilha do Chiquinho e que tem como objectivo promover o turismo e mostrar as potencialidades culturais e turísticas da ilha.

O Autor explicou que a obra foi editada em 2019, mas só agora foi  lançada na cidade da Praia devido a Pandemia do COVID-19, onde destaca os conteúdos do livro em que sugere aos turistas visitarem o Centro Histórico da Ribeira Brava, Largo do Terreiro, Praça Baltasar Lopes, Câmara Municipal, Miradouro do Caminho Novo, Caldeira, Calçadinho, Cruz dos Baleeiros, entre muitas outras. Para aventureiros, o livro destaca as localidades de Recanto, Chã de Norte, Morro Brás, Juncalinho, entre outros lugares turísticos.

O livro da autoria da Fundação João Lopes, uma instituição privada sem fins lucrativos com objectivo de desenvolver ações de ordem social, cultural, científica, educativa, artística e filantrópica, também destaca o artesanato tradicional e urbano e a boa gastronomia de São Nicolau com destaque para o frigenote, modje de São Nicolau, Chanfana de cabra e as festas de romarias, o carnaval, as festividades de São Pedro, as tocatinas e serenatas.

Como referimos anteriormente o livro foi apresentado pelo Eugénio Inocêncio e Alita Dias com as seguintes intervenções:

Eugénio Inocêncio

Em primeiro lugar, um muito obrigado ao Professor João Lopes Filho pelo amável convite para a apresentação do Roteiro Cultural e Turístico de São Nicolau.

Um agradecimento pela dupla honra e prazer: pelo mérito do livro em questão e por ser quem é, Professor. João Lopes Filho é, sem dúvida, uma referência para todos nós, enquanto Professor dedicado e discreto, e enquanto escritor.

É obra editar, em qualquer país do mundo e, sobretudo em Cabo Verde. Principalmente com a qualidade e diversidade de João Lopes Filho. O Roteiro é o 31º livro, de um amplo universo literário e científico, que se seguiu ao primeiro editado em 1976, denominado Apontamentos Etnográficos.

João Lopes Filho é Doutor em Antropologia, Licenciado em Ciências Antropológicas e Etnológicas, Licenciado em Ciências Sociais e Políticas, Diplomado em Administração, Engenheiro Técnico Agrário. Em homenagem ao pai, João Lopes, criou a Fundação João Lopes.

Farei uma apresentação do Roteiro Cultural e Turístico focado em três aspetos:

O primeiro, sobre a ilha de São Nicolau, a grande paixão de João Lopes Filho, o segundo, sobre o potencial do Turismo de Natureza e o Turismo de Cultura da ilha de São Nicolau e, finalmente, os Itinerários criados pelo autor.

A seguir à minha apresentação teremos o prazer de escutar a Dra. Alita Dias, que nos trará a sua experiência e entusiasmo acerca das já consagradas Caminhadas de São Nicolau.

O casamento geológico de duas ilhas

O Roteiro tem uma excelente apresentação e estrutura, a sugerir intuitivamente a qualidade do destino São Nicolau, na sua natureza, história e cultura. E na história, permitam-me destacar a história geológica da ilha.

A ilha de São Nicolau é a junção de duas ilhas, ocorrida há vários milhares de anos.

Reforcei a minha paixão por São Nicolau, quando há poucos anos atrás, um amigo sãonicolaoense me guiou numa visita pela ilha toda, com destaque pelo testemunho geológico deste casamento entre as duas ilhas.

Magnífico de ver e de sentir, à distância, este momento histórico, património do nosso planeta. Sem dúvida, foi um dos pontos altos desta visita guiada o contato com o momento em que essas duas ilhas do passado se juntaram para produzir a magnífica ilha de São Nicolau, a que o Professor João Lopes Filho se propôs oferecer-nos neste Roteiro.

Vê-se no sítio próprio a costura que os séculos não conseguiram disfarçar.  Sugiro a todos os visitantes da ilha, seja qual for a sua motivação primeira, uma visita guiada ao sítio.

O Turismo da Natureza e o Turismo de Cultura

O Roteiro proposto pelo Professor João Lopes Filho engloba nos Itinerários que desenhou o ponto de junção que deu origem a São Nicolau, numa perspetiva única.

O Roteiro começa por enaltecer o Turismo da Natureza na ilha, e diz o seguinte: «Na circunstância…, São Nicolau possui um relevo vigoroso, que alterna com paisagens de rochas imponentes e montes arredondados despidos, com vales profundos, cuja beleza propicia algo de mágico que se espalha no ar e nos rostos das suas gentes, crentes em mil e uma lendas e mistérios que alinham as suas vidas convidando à contemplação e às atividades de montanha e de contacto com a natureza».

E diz, igualmente, para além do apreciado «sol e praia», ligado ao mar estão os diversos desportos náuticos, o mergulho, a pesca desportiva (destacando-se o atum e o espadarte – o conhecido blue marlin), visitas às espécies marítimas no seu próprio habitat, bem como o turismo de saúde.

E acrescenta, ainda, para quem procura férias mais radicais, que esta ilha oferece possibilidades da prática de desportos como «voos asa delta», escalada, montanhismo e passeios «todo o terreno», entre outros.

O Turismo Cultural merece um destaque especial no Roteiro, que, a este propósito, diz o seguinte:

Outro aspeto importante é o aproveitamento da autenticidade de um alargado conjunto de hábitos e usos, incluindo o lazer/divertimento, integrando aspetos sincréticos (carnaval, festas juninas, romarias), no sentido de atrair e deleitar visitantes para a exploração do Turismo Cultural.

E continua o Roteiro, ainda no contexto cultural, a dizer que merece realce o facto de a ilha ter acolhido, nos meados do século XIX, o Seminário/Liceu, o primeiro estabelecimento de ensino secundário e superior em Cabo Verde, que formou não só sacerdotes, como também quadros que se destacaram nos mais diversificados ramos da administração, ensino e cultura, onde cabe destacar escritores como José Lopes da Silva, natural do Lameirão, atual Boqueirão, Baltasar Lopes da Silva, natural de Caleijão, referências incontornáveis da literatura de raiz cabo-verdiana.

Além disso, a ilha foi berço, de entre outras, de personalidades como Antónia Pusich, natural da Preguiça, a primeira poetisa cabo-verdiana, Dr. Júlio José Dias, natural da Ribeira Brava, eminente médico que cedeu a sua residência para ser instalado o referido Seminário/Liceu, Luís Almeida Gominho, professor, natural da Ribeira Brava, o escritor Manuel Lopes, natural de Campinho, o professor e escritor Pedro Corsino de Azevedo, natural da Praia Branca.

Refira-se ainda que São Nicolau foi sede do Bispado de Cabo Verde e da Guiné-Bissau durante quase dois séculos. Este Bispado, o primeiro a ser criado na África Sub Sahariana, em 1533, foi transferido para São Nicolau em 1786, nela permanecendo até 1943.

Os Itinerários, a cores e com muito carinho

O Roteiro Cultural e Turístico de São Nicolau propõe um conjunto de itinerários aos viajantes, que percorrem e cobrem os conteúdos previamente sugeridos pelo Professor João Lopes Filho.

Como era de esperar, os Itinerários começam pelo Centro Histórico de Ribeira Brava e guia-nos por esta magnífica e bem conservada cidade medieval, com referências de vinte e seis sítios de visita obrigatória.  A começar pelo Largo do Terreiro e a culminar na Sé Catedral.

Neste Itinerário, o autor fornece como alternativo, que, de facto, deve funcionar mais como complemento, uma hipótese de caminhada por Faiel, Rabona, Talho, Campinho, Água das Patas e Cachaço.

O Itinerário II apresenta igualmente uma hipótese principal e outra complementar, a saber, a primeira, que começa na Ribeira Brava, em Penedo, e segue por Caleijão, Preguiça e Porto da Lapa.

Este Itinerário tem a particularidade de bordejar a costura que o tempo sarou no encontro das duas ilhas. Este testemunho geológico continua por outro Itinerário, o terceiro, a que o Professor dá o nome de Histórico e que igualmente começa por Ribeira Brava, segue por Carvoeiro, Fajã, Cachaço e termina em Monte Gordo. E esta visita no Roteiro continua por outros Itinerários propostos, e para nosso deleite, a cores.

O Roteiro organizou os Itinerários, em número de 5, a cores, sem dúvida com dois grandes destaques: O Itinerário Histórico e o Itinerário de Aventura.

A cidade da Ribeira Brava, como se previa, está colocada no centro do Roteiro, num cruzamento harmonioso entre a história, a cultura e a geografia.

Permitam-me terminar a apresentação com a enumeração dos pontos de interesse, segundo o Professor João Lopes Filho, do Itinerário V, o da Aventura, dividido igualmente em duas hipóteses de desfrute:

O conjunto formado por: Recanto, Chã do Norte, Belém, Morro Brás, Juncalinho, Jalunga, Castelhano e Carriçal.

O conjunto complementar constituído por: Casinhas, Morro Alto, Chã Branca, Uzeleiros, Junça e Carriçal.

Muito obrigado, Professor João Lopes Filho. Muito obrigado minhas Senhoras e meus Senhores.

Alita Dias

Boa tarde a e sejam bem-vindos

Permitam-me em primeiro lugar cumprimentar a todos, agradecer a vossa presença e felicitar o autor e a organização, a quem agradeço pelo convite.

Chamo-me Alita Dias, sou natural de São Nicolau, nasci em Stancha de Boxe e cresci em Carvoeiros, onde ainda hoje reside a minha família; e com muito orgulho ostento o título de Patchê Parloa!

A minha trajetória profissional fez-se entre Lisboa e Praia, onde resido há mais de 20 anos, e sempre esteve ligada ao sector financeiro.

A minha incursão/aventura pela área do Turismo teve início em 2017, aquando da criação da SN Turismo – Associação de Operadores Turísticos de São Nicolau, quando fui convidada pelo Presidente da Direcção, Arnaldo Felisberto para dar uma colaboração voluntaria, o que tenho feito desde então.

Este livro constitui um importante contributo na inventariação e caracterização dos recursos naturais e culturais da Ilha para serem integrados na composição de um produto de turismo na natureza, que se quer… sustentável, que respeite, preserve e valorize os recursos naturais e culturais de São Nicolau.

Um produto diferenciador no contexto da oferta turística de Cabo Verde, virado para os mercados internacionais do trekking e hiking que apresentam uma procura crescente no mundo, sobretudo, com significado, no pós-pandemia, quando se procuram atividades na natureza, de pequena escala, de ar puro, de preservação ambiental e de vivência da cultura, expressa nas diversas manifestações dos hábitos e costumes das comunidades locais.

É assim um estímulo para que esse desiderato aconteça, e para o qual a SN-Turismo tem contribuído na sua dimensão, como é paradigmática a sua acção com

  • o Projeto Caminhar – que nos permitiu criar a Saniclau Trails, a primeira rede de percursos pedestre sinalizada e cartografada do país, com 200km de extensão e que cobre a ilha na sua quase totalidade,
  • o MeetUP Trekking São Nicolau, festival de caminhadas, realizado anualmente em Novembro, e que tem como objectivo promover a ilha como destino de trekking e que já vai na sua 4ª edição
  • e o São Nicolau Trail Run, uma prova de corrida de montanha, realizada em parceria com o IDJ, cuja 1ª edição acontece este mês, nos dias 26 e 27.

O livro tem sido igualmente, uma importante fonte de informação para a produção de conteúdos, utilizada na promoção e divulgação da ilha nos canais digitais da Associação e da Saniclau Trails, no último ano.

O Master Plan de turismo para a Ilha, e as políticas públicas que se anunciam para o sector do turismo, de que são exemplos o Programa Operacional do Turismo, o Programa de Turismo de Natureza e de Valorização das Aldeias Rurais, bem como o programa formação profissional em curso no sector, e de que a ilha tem vindo a beneficiar, prevê antecipar uma evolução positiva da situação, onde o papel dos Municípios e do Parque Natural do Monte Gordo, é da maior relevância, dada a necessidade de preservação do património – que passa necessariamente,

  • pela conservação de toda a paisagem e dos recursos geológicos,
  • recuperação dos edifícios históricos,
  • manutenção dos caminhos vicinais e a sua elevação a património da ilha,
  •  recuperação das artes e ofícios tradicionais,
  • reestruturação das Festas e Romarias no sentido preservarem os traços mais tradicionais,
  • melhoria dos festivais ligados à Gastronomia, com aposta na valorização dos produtos locais, pratos e modos de confecção tradicionais,
  • a valorização do Carnaval, entre outras iniciativas.

Neste sentido julgamos ser da maior importância que se perspetive a criação de uma entidade local/regional, integrada pelas autarquias, ministério do turismo e sector privado (operadores turísticos), que possa ocupar-se da gestão do destino – nas vertentes de conservação e manutenção das infraestruturas  que vão sendo criadas, na promoção e divulgação, qualificação dos recursos humanos, conservação ambiental e preservação da identidade local, por forma a garantir o equilíbrio entre o desenvolvimento  da economia local e a sustentabilidade futura do produto/destino.

Tudo isto requer, contudo, que se resolva de vez a questão da acessibilidade e dos transportes – ligações aéreas e marítimas de e para a ilha, que para além de acessíveis no preço, devem ter regularidade e previsibilidade de modo a permitir aos potenciais visitantes programar as suas viagens.

Por tudo o acima dito, expresso o nosso louvor e agradecimento ao Autor desta obra, Prof. Dr. João Lopes Filho, ilustre filho de São Nicolau, que assim deixa em livro, um legado inestimável para o futuro turístico da Ilha e para o conhecimento aprofundado das suas potencialidades.

O nosso agradecimento é igualmente extensível aos patrocinadores, Camara Municipal da Ribeira Brava e Garantia Seguros, por apoiarem na sua concretização.

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