José Manuel Pinto Teixeira na hora da despedida

O embaixador da União Europeia em Cabo Verde acaba o mandato no dia 1 de Setembro.

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Nestes cinco anos no arquipélago deu-se o impulso à Parceria Especial, assinou-se o acordo da Parceria para a Mobilidade, continuou-se a financiar a ajuda pública ao desenvolvimento, houve remessas extraordinárias para fazer face a catástrofes naturais. José Manuel Pinto Teixeira nunca foi um homem de consensos nem nunca fugiu de falar do que achava que devia falar, por isso mesmo criou polémicas e alimentou algumas inimizades. Na hora da saída, e neste balanço de mandato feito ao Expresso das Ilhas, mais uma vez, não foge a controvérsias.

Sobre a reforma de ambiente de negócios disse o seguinte: Não há investimento sem um ambiente de negócios atractivo. Certamente recorda-se que venho chamando a atenção para essa questão. Cabo Verde país de rendimento médio já devia ter pensado neste aspecto desde 2007, porque os fluxos de ajuda pública reduziram-se substancialmente a nível bilateral e Cabo Verde tem as condições criadas para atrair esse investimento, agora é criar esse ambiente propício a esse investimento. Este aspecto da parceria especial vai obrigar as duas partes a um trabalho mais sistemático, mais regular em termos de seguir um plano de reformas, e o governo já tem um plano de acção para a competitividade com o apoio do Banco Mundial, a União Europeia contribuirá também para essas reformas através do apoio institucional que dá para todas as instituições, mas essas contribuições terão de ser agora priorizadas para este aspecto. O governo, desde o seu início, elegeu esta questão como uma prioridade e esperemos que possa avançar.

Sobre a diplomacia económica, de ir buscar empresas no exterior e trazê-las para Cabo Verde, deu exemplo do negócio com a Icelandair, dizendo o seguinte: o que está a acontecer com a Icelandair é, no fundo, isso. A Icelandair foi trazida, despertou-se-lhe a atenção, e o que a Icelandair quer fazer em Cabo Verde é buscar novos mercados. Não é Cabo Verde o mercado, há o mercado africano que voa para a América e Europa, não há muita circulação entre África e América do Sul, mas pode aumentar. Como já há uma ligação aqui é uma questão de coordenar todas essas linhas, dar um trânsito de qualidade em Cabo Verde, com um aeroporto em condições, onde se houver a necessidade de pernoitar há condições, todos esses aspectos são muito importantes para realizar esse tal hub que até agora era falado só na teoria. E lá está, a Icelandair foi aliciada com o potencial de mercado e isso pode ser feito para outros sectores, sempre criando condições para isso. Porque a pior coisa é promover sem estarem criadas as condições.

Sobre o Impacto dos vistos sobre o turismo, disse: A decisão do governo em relação aos vistos poderá vir facilitar todas estas questões? Primeiro, como tenho dito e repetido, é uma decisão unilateral de Cabo Verde e o governo é que tem o direito de decidir sobre essas matérias. Na minha função de embaixador da União Europeia não joguei qualquer papel, nem tenho de jogar. Quanto à avaliação dessa decisão, o que posso dizer é que me surpreende muito a reacção de certos sectores da classe política. E mais uma vez, e ainda relacionado com o que falámos antes, há pessoas que pensam que o mundo gira à volta de Cabo Verde e que não é Cabo Verde que tem de se integrar no mundo. Quem vive nesta ilusão e é alimentada por esta ilusão é que normalmente reage. Essas decisões foram tomadas no interesse de Cabo Verde, como disse o Primeiro- Ministro, para facilitar o acesso de turistas, de investidores e outros. Por exemplo, se houver aqui o hub, para pessoas só em trânsito, se essas pessoas tiverem tempo, em vez de ficarem fechadas no aeroporto podem sair e sempre deixam algum dinheiro na economia local, portanto é uma medida que, eu considero, tem um potencial enorme para melhorar a atractividade de Cabo Verde para esse tipo de pessoas. Os europeus representam mais de 90 por cento dos turistas e dos visitantes a Cabo Verde, portanto, facilitar esse acesso só irá aumentar esses números. Acha que essa questão dos vistos terá assim tanto impacto sobre o turismo? Ainda na semana passada, falando com alguns operadores hoteleiros, disseram-me que hoje, em Portugal, é mais barato um turista ir às Caraíbas que vir a Cabo Verde, e não vou falar da Tunísia, nem de Marrocos, mas para ir às Caraíbas não é preciso visto, para ir à Tunísia não é preciso visto, para ir a Marrocos não é preciso visto, e um dos factores que encarece o destino é esse obstáculo. O visto, os 25 euros, é um obstáculo financeiro e, sobretudo, um obstáculo mental. Na Europa já se esqueceu o que são vistos, vivemos dentro do Espaço Schengen onde há 500 milhões de pessoas e em todo o resto da Europa não é preciso vistos, não é preciso para a Ucrânia, para os Balcãs, para a Sérvia, para a Turquia, etc., penso que os jovens europeus nem sequer sabem o que é um visto, é uma palavra que desapareceu. Irem para um destino em que lhes dizem que é preciso visto é um factor dissuasor dessa vontade. E depois saberem que quando chegam ao aeroporto têm de esperar uma ou duas horas para terem um visto – e muitos falam da segurança que traz esse visto, ora não traz segurança nenhuma, é pagar e receber um papel carimbado, mais nada. É preciso é ver a floresta e não olhar apenas para a árvore. Aos soberanistas, que pensam que isto é uma questão de soberania, eu pergunto: a África do Sul, a maior potência africana, impõe vistos aos cidadãos da União Europeia? Não, mas lá está, é tudo uma questão de escala.

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